terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um homem de bem

Por Luís Alberto Ferreira

     João é um homem de bem. Trabalha em uma grande empresa. Tem muitos amigos por lá. Não pára nas reuniões na porta da fábrica. Não quer sofrer desconto de alguns minutos ou horas em seu pagamento. Tampouco participa de atrasos, paralisações ou greves. Sabe que vai receber tudo o que os outros lutaram para conquistar.
     João é um trabalhador dedicado. Executa suas tarefas com afinco na esperança de ter seu trabalho reconhecido, receber aumento e promoção. Tem pouco tempo para se dedicar à família, pois precisa fazer horas extras para pagar o carro novo que comprou. Assume alguns riscos durante a jornada de trabalho. Não observa os procedimentos de segurança a fim de realizar as tarefas com maior rapidez. Não se preocupa com os riscos à sua saúde. Acredita que agindo assim vai engordar sua participação nos lucros da empresa.
     João é um homem de família. Beija a esposa sempre que sai para trabalhar. Seus filhos sempre estudaram em boas escolas. Não sabe como não conseguem seu primeiro emprego. Não entende como podem passar seus dias na internet ou em jogos de computador e nunca ouviram falar em Habermas, Marx ou Rousseau.
     João é um homem bem informado. Adora assistir televisão e acredita em tudo o que vê na tela de plasma. Prefere programas mundo-cão. Não sabe como traficantes tão pobres possuem armamentos tão sofisticados. Lê jornais diariamente e tem por verdades tudo o que está escrito naquelas páginas impressas. Não é de questionar nada. Sua opinião reproduz o que lê, vê e ouve diariamente nos meios de comunicação.
     João é um homem pacato. Não quer saber de política. Não entende de economia. Acredita que há igualdade entre os homens, mas pensa que alguns são mais iguais que outros. Acha que tudo o que conseguiu na vida foi fruto do seu próprio esforço e que cada um tem o que merece. Pensa que a luta de classes e a disputa entre capital e trabalho chegou ao fim com a queda de um muro. Não acredita no poder das flores. Não possui ideologia. Não fomenta sonhos ou utopia. Não percebe que a terra e os recursos naturais, que são explorados em benefício de poucos homens, na verdade pertencem, em partes iguais, a toda a humanidade.
     João é um alienado. Pobre João!

     Crônica publicada em 02 de dezembro de 2009 no informativo Unidade Nacional nº 155 do Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias – Sindipetro Caxias e no jornal Brasil de Fato, edição nº 356, de 24 de dezembro de 2009.


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