terça-feira, 7 de setembro de 2010

Assédio: açoite da alma

Por Luís Alberto Ferreira

     Sempre que nos lembramos do tempo da escravidão no Brasil, seja através de filmes ou novelas, seja através da leitura de um bom livro de história, nos deparamos com uma realidade que aparentemente ficou no passado. Aparentemente, porque sempre temos notícia de que ainda há trabalho escravo no país. E porque a realidade se adaptou, mas não mudou de verdade.
     Uma das formas que os senhores de engenho tinham de fazer com que os escravos se mantivessem submissos eram os castigos físicos. Os negros eram açoitados no pelourinho como exemplo para os demais. Na realidade de hoje esse tipo de castigo seria inadmissível sob todos os pontos de vista.
     Impedidos pelo ordenamento jurídico de castigar seus escravos, os senhores de engenho dos tempos atuais açoitam os trabalhadores por meio de toda forma de assédio. Ao contrário do castigo no pelourinho, o assédio, seja moral ou sexual, é silencioso, vive nas sombras, é muito difícil de ser provado e trazido à luz. Por isso, suas vítimas muitas vezes se calam diante dos assediadores, com medo de perderem seu emprego ou sofrerem perseguições.
     Tão brutal quanto o castigo físico perpetrado na época da escravidão, o assédio é o açoite da alma. Provoca danos psicológicos graves. É a arma dos covardes e incompetentes que precisam se impor através do medo para serem respeitados. Sem contar com qualquer apoio dentro das empresas, o assediado, quase sempre, sofre calado.
     As empresas precisam tomar uma atitude firme a fim de coibirem todas as formas de assédio que corroem o clima organizacional e influenciam, até mesmo, o seu resultado. Devem ter uma política específica para esse problema e tratar os casos de assédio denunciados por seus empregados de forma sigilosa e com a seriedade necessária, punindo os responsáveis. Sob pena de, ao final, ela mesma se tornar vítima, contabilizando prejuízos e inviabilizando seu negócio.
     Mesmo que a empresa tenha uma estrutura para tratamento da questão, o trabalhador deve sempre informar o problema ao seu sindicato. Este, por sua vez, tem obrigação de oferecer todo o apoio político e jurídico na busca de uma solução que não traga prejuízos, do ponto de vista organizacional, ao assediado. E ainda, exigir da empresa, caso necessário, o tratamento psicológico adequado à vítima do assédio.
     A escravidão foi abolida no Brasil em 1889. Precisamos agora abolir as várias formas de assédio que escravizam e deprimem os trabalhadores brasileiros.

     Artigo publicado em 14 de dezembro de 2009 no informativo Unidade Nacional n° 157 do Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias – Sindipetro Caxias.

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