sábado, 14 de maio de 2011

“No Olho da Rua” retrata desemprego dos anos FHC e o risco de o trabalhador escolher seus pares como inimigos

Por Isaías Dalle, da CUT Nacional

     O filme “No Olho da Rua”, com sessão de pré-estreia na quarta, 11 de maio, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, tem ambientação contemporânea – carros, vestuário – mas retrata o caos do desemprego tal como observado na década de 1990, especialmente nos anos FHC.
     Um metalúrgico (Murilo Rosa) é demitido da fábrica onde trabalhou por 20 anos. Entra numa espiral que em três meses destrói seu casamento, o leva a dormir na rua e a cometer um crime.
     Há uma trama paralela que chama a atenção. Como os trabalhadores podem por vezes encarar seus pares como inimigos, esquecendo-se da luta de classes e de quem são os verdadeiros adversários.
     Um desempregado rouba o carro do outro, um pastor aproxima-se sorrateiramente da esposa de um colega, enquanto outro busca vingar-se de um funcionário mais “graduado”, porém assalariado como ele.
     Não só em tempos de crise se dá essa batalha travada entre iguais. O recente processo de ascensão de milhões de trabalhadores para a chamada “classe C” tem produzido um fenômeno individualista de competição com os vizinhos, segundo retratado por pesquisas recentes, como demonstrou reportagem publicada na edição da semana passada da revista CartaCapital.
     É nesse segmento que – pode-se intuir – se darão as novas disputas político-eleitorais. Nele também que FHC estava provavelmente pensando quando sugeriu ao PSDB se concentrar na disputa pela classe média.
     A classe C é a nova classe média. As pessoas têm consumido mais, estudado, feito planos. Mas não parecem crer na luta coletiva nem como proposta de futuro, nem como explicação para sua própria melhoria de vida.
     O debate político, e especialmente o esforço de formação política, tem de ser prioridade para a esquerda. Do contrário, corremos o risco de ver, desde já e nos próximos anos, a nova classe média, que vai deixando o estado de pobreza e opressão total, reproduzir sobre os que são identificados como os “de baixo” o mesmo que sofreram antes – e que vão continuar sofrendo sobre quem ainda está “por cima”.
     O filme “No Olho da Rua”, imaginado e escrito pelo diretor Rogério Correa em plenos anos FHC, muito provavelmente  não tinha como proposta essa discussão sobre a solidão política de parte daqueles que emergem da pobreza. Mesmo assim, faz pensar no tema.

     Matéria publicada no Blog do Artur Henrique em 10 de maio de 2011.

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